DISCURSO URBANO / del ciro..(no de él pero sí de él)

tu presencia llenó muchos espacios vacíos de mi corazón....

Todas as cidades do mundo
Izacyl Guimarães Ferreira

DISCURSO URBANO

(trechos)

1

Olhado de uma nave espacial,
eis o planeta como tela abstrata
ou escultura móvel a girar:
manchas de cor na passagem solar,
na espessa noite as luminosidades
das vidas agrupadas em galáxias.
Somos as manchas e luzes, teatros
de uma aventura sem roteiro claro,
de medo e fé, de sonhos e trabalhos,
que podem ser um grito ou ser um salmo.

6

Toda cidade é feita com palavras:
seus nomes, sons que são totalidades.
Ouvi-los ou dizê-los são mensagens
colando-se à lembrança, são cristais
do reconhecimento. Saltam claras
ou sombrias na mente ao evocá-las:
Constantinopla, Nínive, Cartago.
Granada, Gênova, Berlim, Chicago.
As meras sílabas, pronunciadas,
modelam estruturas virtuais.

8

Em todos nós há um sonho de cidade.
E preciso encontrá-la e desvendá-la.
Construí-la, talvez, bem planejada.
Se Lúcio Costa a riscou para Oscar,
já cresce do projeto o seu sinal
e a cruz da ocupação enche o cerrado.
Assim Brasília e no verso Pasárgada.
O sonho que foi mito é realidade.
O sopro do poema é só metáfora.
Em que papel ou chão há mais verdade?

9

Cidadão. Morador. Enraizado
neste chão onde medram plantas ávidas.
Junto às sobras da mata original,
variáveis texturas nos quadrados
em que a vida se ordena antiga e rara.
Multidão, sou de uma espécie animal
entre contornos artificiais.
Bicho urbano, circulo pela jaula
aberta da metrópole, arável
território das plantas do provável.

29

Vi Cartagena, a bela, a ocidental
das índias caribenhas dos piratas,
pensando uma Ouro Preto à beira d'água.
Vi Havana, a marinheira, rasgada
de ferrugem e sal politizados.
E a Barcelona de Gaudí, linguagem
da cor na arquitetura em liberdade.
Em todas elas me senti local,
cativo de seu céu aberto e largo,
um céu que as faz maiores que os traçados.


Corcovado, Rio de Janeiro, Brasil.

31

Se tantas vezes foi por mim lembrada,
para a que é minha já me falta a fala,
embora a tenha inteira no sotaque
— aquela entre oceano e Guanabara,
onde do prazo já cumpri metade.
Melhor voltarmos ao Bandeira, ao Carlos,
ao Tom, Noel, Vinicius de Moraes,
ler Cecília na Crônica Trovada,
Rio de um santo e um fundador flechados.
Rio verbete meu e meu comparsa.

32

Numa cidade tudo é transitar.
De um lado a outro, por cima e por baixo,
entre sinais, nos ares e nas águas,
entre malhas de horários. Circular,
faz-se a vida uma renda de chegar
e retornar, um tecer o bordado
de uniformes e bailes, de mortalhas,
as mãos cortando o infinito baralho
da roda da fortuna, num girar
que é o próprio jogo e o preço da passagem.

34

São seu avesso, são os quase bairros,
pardas cidades que não são: esquálidas
favelas da fala de Drummond, fala
universal de arquiteturas trágicas.
São dolorosas danças num cenário
à mostra mas oculto em suas armas.
Sob as linhas das letras musicais
há uma verdade maior, a das máscaras
noturnas e sem cor, que nunca saem
nas fantasias de seus carnavais.

domingo, 24 de agosto de 2008

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